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A Música Popular Brasileira: História, vozes e transformações

  • Foto do escritor: Mariana Rolim
    Mariana Rolim
  • 5 de mai.
  • 6 min de leitura

O que é e como surgiu o estilo musical que marca gerações a mais de 60 anos


O entusiasmo cultural dos anos 60 influenciou o surgimento da MPB (Foto: Reprodução/Internet)
O entusiasmo cultural dos anos 60 influenciou o surgimento da MPB (Foto: Reprodução/Internet)

O período da década de 60 foi marcado pela coexistência de diversos estilos musicais como samba, jazz, bossa nova, sertanejo, baião, rock e muitos outros. Essa efervescência cultural muito rica foi o marco inicial para a origem da Música Popular Brasileira, a MPB. Esse movimento musical é caracterizado pela diversidade de expressões musicais presentes em suas canções, não há uma característica única que defina o que ele é. A MPB é o Brasil, é a mistura de diferentes artistas e gêneros, é a miscigenação cultural.

Nascido no contexto da Ditadura Militar Brasileira, esse movimento cultural surgiu como ferramenta de resistência em um cenário de tumulto político no Brasil e no mundo. Perante uma realidade de censura, artistas brasileiros encontraram na música formas de driblar o regime militar e promover, através da arte, um movimento de questionamento ao poder governamental. 

De acordo com Luciana Viana, cantora e compositora graduada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “a MPB existe a partir de um contexto de repressão, era como se os artistas precisassem e quisessem dar uma resposta a essa realidade”. Segundo o professor da Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES), Victor Polo, essa vertente musical teve como foco a produção de músicas de protesto, “grande parte, especialmente nesse período, foi completamente influenciada pela pela política, pelo que estava rolando na época, os artistas adotaram um tom crítico à ditadura”.

A popularização das músicas internacionais e o movimento pop/rock que estava começando a ser importado ao Brasil também representaram fortes influências para o início do movimento cultural brasileiro. Polo destaca que “a MPB queria, de certa forma, afirmar a identidade brasileira. Tinha muita gente que era de esquerda e estava se afirmando, nacionalmente, enquanto uma cultura”.

Outro grande pilar responsável pela existência e popularização da Música Popular Brasileira foram os festivais de música. Eventos como o Festival da Canção da TV Record e o Festival Internacional da Canção, revelaram nomes que hoje se posicionam como ícones da música. Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil e muitos outros assistiram suas carreiras alavancarem ao interpretarem músicas inéditas nesses palcos, que eram assistidos por milhares de pessoas por meio da televisão e do rádio. 

A transmissão ao vivo pela televisão era uma novidade para a época, o que possibilitou a chegada do movimento aos lares de todo o país. A euforia causada pela novidade tecnológica, aliada à efervescência cultural característica dos anos 60 e 70, fez com que os festivais de música se tornassem eventos marcantes, famílias se reuniam para torcer por suas músicas e intérpretes favoritos. Os festivais ajudaram a consolidar o que passaria a se chamar MPB, música regional com influências urbanas, unindo crítica social com sofisticação artística.


Afinal, o que é, de fato, a MPB?

Ao falar de gêneros musicais, é comum nomeá-los a partir de características únicas que os definem individualmente, ou seja, cada gênero possui um tipo de musicalidade marcante e particular. Porém a MPB não se encaixa nesses padrões, ela mistura bossa nova, samba, baião de dois, choro, maracatu e muitos outros estilos sonoros. Logo surge o questionamento, a MPB é ou não um gênero musical? E se não, o que ela é?

O músico graduado pela Unicamp, Fernando Junqueira, destaca que “não existe uma uma característica estética musical que seja super marcante da MPB, justamente por ela fazer uma mistura de estéticas”. A Música Popular Brasileira é muito ampla, como o nome mesmo já diz, é a música feita pela e para a população de um país que possui cerca de 220 milhões de habitantes. “Não existe alguma característica musical muito típica, justamente por ela ser tão grande”, completa o musicista. 

Junqueira aponta que “a identidade própria é justamente a mistura dos ritmos, se não houvesse essa mistura, não haveria o que a gente chama de Música Popular Brasileira”. O caráter antitradicionalista e a experimentação são as principais características desse movimento cultural, essa é a sua particularidade. Para o músico, a MPB pode ser vista mais como uma definição mercadológica do que um gênero musical propriamente dito, “é como se fosse um selo comercial, um guarda-chuva de artistas que foram encaixados dentro desse selo”.

A cantora Luciana Viana destaca que “a MPB não é um gênero musical, ela é um guarda-chuva que possui uma base estética em gêneros musicais que vêm da cultura popular brasileira, e que foram modernizados”, salientando a diversidade e a pluralidade do movimento cultural. “Para falar de gênero, eu tenho que falar de algumas características específicas, alguns elementos musicais e padrões rítmicos” realça a musicista, “ela é mais um movimento cultural do que um gênero musical”.

Viana ainda adiciona a importância que as composições têm dentro da classificação da Música Popular Brasileira, “as letras tratam de questões sociais, buscam combater a repressão e retratar o Brasil historicamente”. O viés histórico desse movimento é extremamente marcante, tendo em vista que ele surgiu em meio à Ditadura Militar Brasileira e em um contexto de censura, onde o governo filtrava qualquer expressão artística a ser divulgada. “Olhar para MPB é ouvir as músicas e reconhecer a história do Brasil através delas” salienta a compositora. 

Para o professor de música Victor Polo, a Música Popular Brasileira vai muito além de um gênero musical, não é só o estilo que surgiu durante o pós-bossa nova por volta dos anos 60, “ muito além de um gênero musical, é uma marca fonográfica e de mercado”. O docente da FAMES atribui à MPB o caráter de movimento cultural, “eu acredito muito mais em um movimento cultural, uma vertente cultural e mercadológica”, Polo destaca ainda que “um gênero musical seria um samba,  a bossa nova, o baião, se a gente considerar isso como gênero, a MPB tem tudo isso”. 

Diante de tantas interpretações, fica evidente que a Música Popular Brasileira não pode ser reduzida a um único molde ou padrão. Ela foge dos conceitos tradicionais de gênero musical e se firma como um movimento cultural amplo, diverso e único, que representa a diversidade de sons e identidades presentes em todo o Brasil. A MPB é, acima de tudo, um espaço de união entre mentes criativas, onde diferentes vozes e ritmos se encontram. Seja guarda-chuva musical, movimento cultural ou selo mercadológico, ela não cabe em rótulos mas expressa a complexidade cultural de um país inteiro.


Principais artistas responsáveis por popularizar a MPB

Se a MPB é uma grande união da identidade musical brasileira, são seus artistas que deram alma a esse movimento. Ao longo dos anos, cantores, compositores e intérpretes ajudaram a construir o que hoje conhecemos como Música Popular Brasileira. Essas personalidades artísticas ficaram conhecidas não somente pelo talento, mas também pela capacidade de representar o Brasil em forma de música. Nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil, Elis Regina e João Bosco ajudaram a expandir os limites da MPB e a moldaram como patrimônio cultural brasileiro.

Nascido em 1944, no Rio de Janeiro, Chico Buarque é um cantor, compositor, escritor e dramaturgo, tido como um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Responsável por grandes sucessos como “A Banda”, “João e Maria” e “Cálice”, Chico foi perseguido pela Ditadura Militar Brasileira devido às suas letras e protestos públicos contra o regime. O músico é conhecido por sua sofisticação musical, lirismo poético e engajamento político. 

Gilberto Gil é um dos artistas mais influentes da música brasileira, conhecido por sua versatilidade, criatividade e engajamento cultural. Nascido em 1942, Gil se destacou não apenas como cantor e compositor, mas também como amante da cultura brasileira, abordando em suas letras temas como identidade, espiritualidade, política e ancestralidade. Com músicas como “Andar com Fé”, “Esperando na Janela” e “Palco”, sua obra representa a diversidade e a riqueza da MPB.

Elis Regina foi uma das maiores cantoras da música brasileira, conhecida por sua potência, afinação e intensidade. Nascida em 1945, se destacou nos festivais de música que marcaram a era de ouro da MPB. Com uma presença de palco marcante e uma entrega emocional característica, Elis era capaz de transformar qualquer canção em uma experiência única. Seu repertório incluiu canções como “Como Nossos Pais”, “Águas de Março” e “O Bêbado e A Equilibrista”, revelando seu papel como ponte entre compositores e o grande público. 

João Bosco é um dos grandes compositores, cantores e violonistas da Música Popular Brasileira, conhecido por sua habilidade musical, harmonias complexas e letras marcantes. Nascido em 1946, sua música é caracterizada pelo encontro de gêneros como samba, jazz e bossa nova. Responsável por músicas como “Papel Machê”, “O Mestre Sala dos Mares” e “ Quando o Amor Acontece”, João Bosco se mostra relevante devido seu conhecimento artístico, criatividade e comprometimento com a música brasileira.

A MPB, com sua riqueza de vozes, ritmos e histórias, segue como um dos movimentos mais autênticos da cultura brasileira. Além do rótulo de gênero musical, ela é um espaço de criatividade, resistência e brasilidade, capaz de englobar diferentes gerações e realidades. Entender a MPB é, portanto, mergulhar na essência brasileira, em sua diversidade cultural, complexidade social e capacidade histórica de se expressar por meio da arte.

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